Quantcast
Channel: Em Cartaz com Márcio Sallem » Michelle Monaghan
Viewing all articles
Browse latest Browse all 8

True Detective – S01E08 – Form and Void

$
0
0

True Detective

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo” (Gênesis 1:2)

Durante as últimas semanas, os fãs de True Detective perderam o sono criando teorias sobre o Rei Amarelo, Carcosa e a identidade do assassino de Dora Lange: seria Rust, Martin, Maggie ou outro personagem visto de relance em episódios anteriores? A bem da verdade, havia motivo para tanta especulação, visto que o criador Nic Pizzolatto e o diretor Cary Fukunaga, como autênticos pés de valsa, introduziam easter eggs a cada episódio que nos empurravam em direção de uma nova pista, algo que poderia estar debaixo de nossos narizes e não havíamos percebido. Rust, com cinismo, afirmaria que estávamos fazendo as perguntas erradas, enquanto Pizzolatto insistia não ser fã de pegadinhas e reviravoltas. Porém, isto não foi o bastante e o sangue somente esfriou depois deste episódio espetacular de uma série idem.

Afinal, se comentei há algumas semanas a facilidade com que a série saltava de um subgênero policial a outro, com atores de potencial enorme como Woody Harrelson e, principalmente, Matthew McConaughey, Pizzolatto esteve certo em dedicar-se sobremaneira aos detetives ao invés de aos desaparecimentos e assassinatos satanistas nos pântanos da Louisiana. Fez isto com uma resolução satisfatória do mistério, ou parte dele, a exposição do monstro que estava no final do sonho e uma visita perturbadora a Carcosa, que é apenas uma amostra do que as diversas vítimas sentiam quando penetravam pela primeira vez (e possivelmente única) no labirinto apodrecido de uma das escolas abandonadas da fundação Wellspring. Porém, caso ainda esteja se perguntando sobre o tal Rei Amarelo, desconfio que possamos saber sua identidade – Billy Lee Tuttle usava amarelo em todos os acessórios, gravata, lenço etc -, e, se eu estiver errado, Fukunaga faz questão de apresentar a ossada de um cadáver no interior de Carcosa vestido de amarelo desbotado e essa imagem basta para traduzir a importância do sujeito à série.

Ora, embora o Homem Alto, Dewall e Reggie Ledoux sejam somente a ponta do iceberg para desvendar os crimes, que possivelmente escalam até o alto escalão do poder, há mínimo interesse em prosseguir pois a transformação de Rust e Martin está completa e é sobre eles e a natureza humana que trata True Detective.

No início, havia apenas escuridão. Se você me perguntasse, eu diria que a luz está vencendo.”

Aos poucos, é verdade, mas está. No início, Rust era niilista (quem não aprendeu o significado da palavra com a série, volte dez casas ao ensino fundamental!), em confronto com a própria espiritualidade e, porque não, a religiosidade, ambas renegadas após a morte da filha. Um realista ou, aos olhos da sociedade, um pária pessimista, obcecado em cumprir a própria programação e a reviver o círculo plano penitencial autoimposto. A degradação do detetive brilhante e apresentável de 95 ao recalque de ser-humano, alcoólatra e solitário, em 2012, angustiou, mas, vê-lo expor-se emocionalmente a quem mais próximo teve como um amigo nesses 17 anos, levou de fato às lágrimas o espectador mais durão. Afinal, após 8 horas de narrativa, Rust finalmente acolhe um instante de otimismo (ou seria realismo?), em que aceita seu destino e o luto e acolhe a luz, por mais fugidia que as estrelas pareçam à distância.

Perto dele, pareceria covardia discutir a transformação de Martin. Somente parece, pois a sua sina – a luta do homem de meia idade contra a emasculação inevitável – soava corriqueira diante da intensidade do drama de seu parceiro. O que foi sendo nivelado nos episódios passados, em que Harrelson encontrou espaço para desenvolver as angústias do seu personagem, permitindo-nos penetrar na sua simpatia e aparente bom humor e descobrir a imagem de quem pôs tudo a perder (a família, o emprego etc) por conta da incapacidade em aceitar o amadurecimento e tornar-se um homem de família. Portanto, a visita da ex-mulher e filhas no hospital no final da narrativa, além de um prêmio de consolação em forma de troféu, também é a maneira com que Pizzolatto desdenha da teorização que tomou conta das redes sociais (e da qual eu participei nos últimos dias, vide o último post da série!).

Até porque a investigação era o pano de fundo para algo grandioso: a maneira com que dois homens destroçados encontraram, no vazio que paradoxalmente lhes preenchia, nova forma para reconstruir-se e renascer; nem que, para tanto, demorassem 17 anos.

True Detective

O que você achou do último episódio de True Detective?

Ocioso


Viewing all articles
Browse latest Browse all 8

Latest Images





Latest Images